O papagaio do Seu Lulu

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

O papagaio do Seu Lulu
Manoel Gandra é poeta e jornalista




Uma boa pessoa era o Seu Lulu, que, com o seu irmão Ivone, era proprietário do Pilão, um imponente bar que existia na Rua Silviano Brandão, próximo à Praça Getúlio Vargas. Durante quase toda a década de 70, o Pilão foi o rei da noite em Formiga. Era lá o grande ponto de encontro da rapaziada.

Pessoa de classe, muito educado e gentil, Seu Lulu levava tudo na calma e na esportiva. Ninguém o tirava de sua paz.

Tranqüilíssimo, característica predominante de quem vive nas Alterosas, Seu Lulu também tinha um grande coração. Ajudava todo mundo.

Um dia, um menino da comunidade rural de Padre Trindade, todo maltrapilho, chegou ao Pilão vendendo um papagaio que acabara de capturar perto de um barranco. Sensibilizado, Seu Lulu adquiriu a ave. Uma nota de quinhentos, daquelas que tinham um tantão de índios, um atrás do outro.

O bichinho ganhou um poleiro que ficava nos fundos, perto da cozinha, logo em cima de uma imensa lata de lixo.

Num instante, todo mundo ficou sabendo do “louro”. Era um papagaio muito bonito, todo verde com um penacho vermelho na cabeça. O local ficou mais simpático.

Era um sábado à tarde. Seu Lulu passava o pano no balcão, quando chegou seu amigo Osório Garcia para uma cervejinha. Ele nota algo de estranho:

__Uai, cadê o “louro”?

E seu Lulu na maior calma:

__Aaahhh, eeuu deeii eeele pros ooutroos...

__Mas por que, Lulu? O papagaio já era uma grande atração!

__Eeuu deei eele poorquee eele falaava muiitoo moole...

__Mas quem foi que ensinou ele a falar?

__Fuuui eeeeu...