Opinião: Historinha de amor com forró e chá de bebê

Ana Pamplona (de Formiga)

Opinião: Historinha de amor com forró e chá de bebê
Ana Pamplona é membro do Coletivo Poesia de Rua




Dalila olhou-se no espelho satisfeita. Havia caprichado no visual para ir ao forró naquele sábado. Depois de muitas aulas e grande dificuldade, conseguira aprender alguns passos básicos da dança e precisava praticar.

O fato é que ela estava atolada até o pescoço em dois relacionamentos confusos. Nada de sério, pelo contrário, ambos totalmente sem compromisso. Apesar de ter um certo interesse em Bruno, que era seu colega de trabalho, sabia que aquilo não tinha futuro. Estavam se relacionando há meses e nada dele assumir o namoro.  Já com o outro, Jackson, seu professor de Jiu-Jítsu, os encontros eram mais esporádicos, porém, havia certa química entre eles. Então, resolveu arriscar e o convidou para uma noite de forró.

Para sua completa frustração, minutos antes de sair de casa, ela recebe uma ligação dele, desmarcando o compromisso. Segundo ele, esquecera-se de um jogo importantíssimo do Cruzeiro e que havia combinado de assistir com amigos. E com a cerveja, claro. E seja lá com quem mais. E o pior: não a incluiu no programa.

Sábado cruel. Trocada por um jogo de futebol... era muito para a sua autoestima. Estava cansada daquela vida de ficante. Pensou, pensou em suas frustrações e inseguranças, posturas e atitudes no quesito relacionamento. Não seria a hora de seguir mais autônoma? De não depender de relacionamentos para sentir-se bem e amada? Resolveu ir ao forró assim mesmo.

Ligou para duas amigas na tentativa de conseguir companhia para sua empreitada. Todas tinham compromisso. Uma delas, Júnia, disse que iria em um um chá de bebê e seria bom se Dalila fosse com ela, pois, lá estaria uma pessoa que ela pretendia apresentar-lhe, um rapaz bonito, solteiro, um possível candidato a namorado.  Mas... não. Chá de bebê era demais.

Enfim, sentada no vaso sanitário precisava decidir: ir ou não ir sozinha ao forró?

Levantou-se olhando no espelho mais uma vez. Viu sua imagem refletida e a foto ao fundo, na parede do quarto, com o ídolo, Gustavo Lima. Resolvido: ir ao forró. “Autonomia” pensou ela. “Depender de homem para ser feliz é a pior coisa”. Eu vou sim”. E foi.

Lá chegando, na fila para adquirir seu ingresso, Dalila foi abordada por um rapaz muito atraente. Algo tímido, muito educado, disse se chamar Diego. Explicou que estava vendendo uma entrada para o forró.

Por acaso você se interessaria em comprar minha entrada?

Ela perguntou-lhe o porquê e ele respondeu que havia recusado um convite para um chá de bebê, para sair com alguém, porém, algo dera errado. A companhia dele havia desistido de ir ao baile. Se por acaso, ela lhe comprasse o ingresso, restaria vender apenas o dele. Ela então, respondeu que sim, compraria o ingresso. Pagou ao rapaz e eles despediram-se ali.

Dalila entrou no salão, um tanto perdida. Há muito já se arrependera por ter ido. O que iria fazer naquele lugar? Ninguém para conversar, nem dançar, nenhum conhecido, totalmente rendida... “Meu coração bate mais forte que o seu, quando eu te vejo, mas quando eu vejo você, será que é amor? não sei, será que é paixão?” Talvez, só sei que é bom demais” gritava o vocalista da banda.

 Então, tomou a decisão de ir ao bar. Comprou uma bebida, instalou-se num canto e ficou observando a situação patética em que se encontrava. Pensou: “que ideia, meu Deus, como vim parar aqui? Que loucura!”

Mais um ou dois chopps, e ela já estava meio bêbada, quando um homem que estava a seu lado pegou em seu braço, puxando-a para junto dele:

— Vamos dançar, lindeza?

Um tanto tonta, ela olhou para ele sem acreditar no que via e começou a rir. Neste exato momento sentiu alguém lhe puxando o outro braço. Era Diego! Disse:

— Ela está acompanhada! Vamos dançar, amor...

Sem entender muito bem o que acontecia, ela deixou-se levar por ele e dançaram a noite inteira. Divertiram-se muito ao comentar sobre o episódio do homem puxador de braços. Ela perguntou por que ele havia entrado no baile. Ele disse que não conseguiu vender seu ingresso, mas começou a rir e admitiu que foi por causa dela. Entre os dois formou-se um clima gostoso, a química perfeita, mas Dalila não se rendeu a Diego. Estava ainda com a história do jogo na cabeça, processando aquela fossa, aquela rejeição. Para piorar, estava bêbada, precisava ir embora urgentemente. Ele não opôs resistência. Levou-a até a saída, até Dalila tomar um Uber.

No caminho para casa ela já havia se arrependido. Achava-se uma perfeita idiota. Por afetar-se tanto com o fracasso do seu plano com Jackson, como também por rejeitar Diego! Uma burrice completa e avessa ao seu projeto de autonomia. E mais: não trocaram os contatos. Enfim...

Passados alguns dias, depois de procurar sem resultado por vários Diegos nas redes sociais, comentou com Júnia sobre o desfecho daquela noite frustrante com Jackson, sobre a besteira que fizera rejeitando Diego. Júnia arregalou os olhos e disse-lhe:

— Dalila, o rapaz que eu disse que ia lhe apresentar no chá de bebê da Cibele chama-se Diego! E ele não foi à festinha...