Opinião: OS VELHOS

Eduardo Ribeiro (de Formiga/MG)

Opinião: OS VELHOS
Eduardo Ribeiro de Carvalho é membro da Academia Formiguense de Letras




Velho é um vocábulo criado pelo homem para denominar aqueles que já percorreram uma longa estrada chamada vida e agora já estão com seus sessenta e cinco anos ou mais, já com o corpo deformado por rugas e outros defeitos visíveis ou não, e pesado, porque já não possuem a força e elasticidade da juventude, e estão com seus órgãos internos também já gastos pelo tempo e não funcionando adequadamente como antes. Essa palavra é usada também para designar tudo aquilo que foi criado ou construído há muito tempo e não estão mais adequados à modernidade e talvez não sirvam para mais nada. E por isso que se a dita palavra não for usada com muito cuidado, pode ofender e magoar pessoas, que não têm a menor culpa de estar velha. Deus fez a vida desse jeito. Não há como mudá-la. Infelizmente. E todos sabem, eu e aqueles que ainda não estão velhos, vão ficar, isso, se não acontecer algum acidente de percurso, ou seja, morrerem mais cedo por algum motivo qualquer. Verdade é que são poucos os jovens que pensam na velhice, embora os velhos estejam por toda parte, eles não conseguem, por mais que tentem, se enxergar daquele jeito.

Eu também já fui assim.

É a natureza humana, bastante conveniente, que os impedem de provocar uma empatia verdadeira com sua própria velhice

Tudo é prazeroso quando somos crianças, a vida é repleta de brincadeiras, a fase juvenil, cheia de diversões e o início da fase adulta, repleta de sonhos, onde comumente já convivemos com a pessoa amada e onde nos empenhamos a trabalhar de forma vigorosa, com muita satisfação, visando realizarmos nossos desejos de termos as coisas materiais que estão por aí, a nos seduzir, prometendo nos levar à mais completa felicidade.

E embalados nos afazeres da vida, de repente estamos velhos.

A vida passou.

E por mais que não acreditássemos ou não sentíamos que um dia nos transformaríamos numa pessoa idosa, eis que este dia chegou. E ele chega, inexoravelmente, para todo mundo que consiga permanecer vivo. A outra única opção, como todos sabem, que nos é dada para não ficarmos velhos, não é muito boa, é morrermos novos, e isso a maioria de nós não desejamos, não obstante vidas de todas as idades são ceifadas ao longo do tempo, por motivos diversos, as doenças e os acidentes são os mais conhecidos.

Contudo, por sorte, competência ou ajuda divina, muitas pessoas conseguem avançar em idade, até que um dia, como já dissemos, sem mais nem menos, “sem choro e nem vela” somos surpreendidos por nós mesmos e chegamos à dramática conclusão:

A velhice chegou!

E não há como sair dessa! A certeza é de se ficar mais velho.

E agora, o que fazer? O que esperar da vida.

O mundo em geral considera velha aquela pessoa que atinge os sessenta anos de idade. Podemos ver isso nos dizeres colocados nos vários setores de atendimento ao público sendo eles privados ou não: “atendimento exclusivo às mulheres grávidas, deficientes em geral e idosos acima de sessenta anos”. Portanto, quando nos pegarmos em frente a um bolo de aniversário, bem confeitado, onde todos os presentes estão cantando o tradicional “parabéns para você” e no bolo estiver sessenta velinhas acesas ou uma de número seis junto a uma de número zero, isso queria dizer que você é um sexagenário. É o veredito final de que ficamos realmente velhos, ou melhor, dizendo, ficamos idosos. Portanto, a velhice, por mais cruel que nos possa parecer, é o fator desencadeador do processo de finalização do tempo que nos foi estabelecido pelo criador, para pôr fim ao mecanismo que sustenta a vida no corpo de um ser vivo.  

Bom, diante desse fato, irremediável, irreversível, penso que nós idosos temos que no mínimo, nos reposicionarmos diante da vida, para que possamos avançar dentro da idade alcançada, sem que soframos mais do que é necessário. Penso por mim, que para isso é necessário formarmos uma opinião própria, através de reflexões positivas, que nos permita enfrentarmos as circunstâncias da velhice de forma tranquila e porque não, também de forma prazerosa, ou seja, ter uma vida feliz, apesar da idade.

Como conseguir isso?

Primeiro - temos de nos conscientizarmos de que de que estamos numa situação imutável e possuidora de uma característica perversa, o tempo continua passando e a idade só piora, vai ficando cada vez mais avançada. Não há solução para evitar que isso aconteça, portanto, temos de aceitar esse fato cabal, sem apavoramento, sem perdemos o controle emocional, pois não há nada pior neste mundo do que o descontrole emocional, que pode nos levar a um poderoso desconforto físico, com muito sofrimento, por isso temos que nos policiar permanentemente, não deixar que ideias negativas nos atropelem. Não importa se temos sessenta, oitenta ou noventa anos, temos de seguir em frente de forma tranquila.

Nascer e morrer não são problemas nossos.

Precisamos é seguir em frente, sem adicionarmos mais sofrimentos à vida, além dos que ela já nos oferece.

Segundo – o idoso deve, obrigatoriamente, mesmo se sentindo bem, fazer uma consulta médica anualmente, nunca deixar passar esse período, é mania nossa ir protelando as coisas, neste caso o tempo é contra nós, doze meses são doze meses e não treze. Nesta consulta devemos sair com uma receita pedindo os exames considerados de rotina – sangue, urina, fezes e outros. Devemos manter, com ajuda ou não de remédios, os níveis aceitáveis de todos os itens que são possíveis de medição, inclusive, pressão arterial, tireoide, etc.

Terceiro – o idoso não pode ficar parado.

O corpo humano pede movimento, portanto, devemos realizar algum tipo de exercício de forma regular. O caminhar durante uma hora, três a quatro vezes por semana é bem apropriado a pessoas de idade. Existem outros bons exercícios que podem ser levados a efeito, cada um deve escolher o seu preferido, o importante é realizar algum. O idoso também deve procurar se distrair e não deixar o cérebro quieto. Jogos – xadrez, damas, cartas – palavras cruzadas e leituras, são ótimos para manter a mente funcionando. Também, não devemos nos esquecer de praticar exercícios de relaxamento muscular e respiração. Existem algumas técnicas excelentes para desenvolvermos essas atividades, que também nos ajudam em muito a manter a saúde em dia.

Enfim, é isso.

A vida é só uma e igual para todos, vamos aproveitá-la ao máximo. Eu com meus setenta anos, ainda faço corridas de rua, dia sim dia não, em torno de quinze quilômetros por vez, em boa velocidade, sem muita dificuldade, o que melhora muito a minha qualidade de vida.

Vamos em frente! Até que Deus nos chame.