Crônica: Júri popular

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: Júri popular
Manoel Gandra é poeta e jornalista




Na vida forense acontecem umas que são ótimas, só que elas devem ser publicadas com cuidado, porque algum advogado mais ou menos queimado pode querer encher. Por isso, os personagens têm de ser disfarçados para não dar problema. Sabe como é... advogado... Justiça... lei...

Há uns 15 anos, um fato marcou o início da carreira de um hoje brilhante e festejado profissional do direito em Formiga.

Ele tinha acabado de se formar em Divinópolis, passou com louvor na prova da OAB e logo montou escritório (uma dica: o local onde ele trabalhava ficava entre a Praça Ferreira Pires e a São Vicente Férrer).

Terno novo feito pelo magistral alfaiate Claudionor Silva e lavado no Joaquim Tintureiro, o advogado passava o dia na porta do escritório, mas não aparecia ninguém. Quase desanimou.

Juiz muito humano, Alfredo Olivote Neto, que tinha acabado de chegar à cidade, acabou dando um conselho ao jovem profissional:

__Início da profissão de advogado é assim mesmo. Até você ficar conhecido, vai ser difícil. O melhor seria você fazer alguns júris. Não há lugar melhor para um advogado se apresentar à sociedade do que o salão de júri.

O advogado seguiu o conselho. Foi à cadeia e ofereceu seus serviços a um mestre de obras, um senhor de quase dois metros, que tinha matado a mulher a pauladas. Estudou o caso, procurou jurisprudências, estava preparadíssimo. Houve o júri. Placar final: condenado, sete a zero, 22 anos e oito meses em regime fechado. Para não deixar seu cliente desanimado, o advogado chegou ao ouvido do réu e deu início à sua brilhante carreira:

__Ponha as mãos pro Céu. Se é outro no meu lugar, seriam mais de 30 anos. Ponha as mãos pro Céu.

O tal mestre-de-obras fechou a cara e comentou com os policiais que o levavam para a viatura que a vez era de matar o advogado.

Dizem que o profissional do direito conta dia após dia o tempo que falta para seu cliente deixar a cadeia. É que ele não teve direito à condicional por mau comportamento.