Crônica: 4 – 4 – 4

Manoel Gandra (de Formiga/MG)

Crônica: 4 – 4 – 4
Manoel Gandra é poeta e jornalista




O ano era 1962 e o time do Formigão foi convidado pela Prefeitura de Campo Belo para participar das comemorações do aniversário da cidade.

Faziam parte dos festejos desfiles, inaugurações e uma partida de futebol entre o Formigão e o Sparta, uma das mais tradicionais equipes da região. O jogo seria num domingo.

Como o pessoal de Formiga sabia da força do Sparta, o técnico Lulu Frade organizou e treinou bem a equipe para não fazer feio.

O jogo foi marcado para as cinco da tarde. Como Campo Belo é pertinho de Formiga, os jogadores teriam de se apresentar ao meio-dia para seguirem viagem. Em ponto, Lulu Frade esperava pelos atletas na porta do Estádio Juca Pedro. O José Nicodemos, que não atrasava nunca, passava flanela no volante enquanto o pessoal entrava.

Tudo conferido, o ônibus dá início à excursão. Logo depois de passarem pelo Posto São Vicente, no final da Rua dos Quartéis, Lulu Frade se levanta e começa a explicar a tática que deveria ser adotada:

__Vamos jogar no esquema 4 – 4 – 4.

Craque de bola e de contas, o sempre ovacionado Joaquim Sudário Filho, o Duca do Café, se levantou e disse que tinha notado algo de errado:

__Uai, Seu Lulu, como é que pode ser? Quatro mais quatro e mais quatro é 12. No futebol, são só 11...

__O esquema é o 4 – 4 – 4, e acabou. Ninguém confere nada, ainda mais no interior e em dia de festa. Nós não podemos é perder.

__Mas, seu Lulu, futebol são só 11. Vai dar rolo...

Não adiantou. Chegando a Campo Belo, entrou o Formigão com 12. Começa o jogo. Não eram nem 20 minutos do primeiro tempo e o Sparta já ganhava de dois a zero. Foi então que um tonto gritou da arquibancada:

__O Formigão tá com 12... tá com 12 ...

Foi uma brigalhada. Lulu Frade tentou despistar, mas não teve jeito: teve de tirar um. Acabou tirando o Duca do Café. O time melhorou e o Formigão acabou virando o jogo. Quatro a dois no final.

No segundo tempo, o Sparta teve de ficar o tempo todo na retranca para que a goleada não fosse maior.