Cronicando: Delícias de Mãe

Robledo Carlos (de Divinópolis)

Cronicando: Delícias de Mãe
Robledo Carlos é membro da Academia Formiguense de Letras




Meu olhar infantil se definia ao que via em minha mãe, era grandeza, beijo, abraço, cobertor quentinho, leite quente e seu olhar por mim.
A palavra era delícia. Que delícia te observar!
Absorto, te observava. Calado despretensiosamente, fingindo ocultar minha ingênua admiração.
Seus gestos eram de pura graça e tamanha beleza, tinham o brilho de uma rainha.
Minha leitura se fazia quase sempre em teus olhos. Quase sempre conseguia compreendê-los, em outros já eram mais indecifráveis. Intrigava-me o sentimento que nela ocultava, ou quem sabe, ela pudesse estar a dificultar minha percepção.
Fostes a escolhida para ser a minha mãe, detalhadamente escolhida na perfeição e eu o cara de sorte, o bastardo de sorte, de muita sorte de ter sido aquele que supostamente seria seu guardião até o último de teus dias.
Não foi assim.
Ficastes pouco tempo junto a mim e bem cedo partistes.
Me acostumei sem a luz dos teus olhos, não acostumei sem ouvir a doçura de tua voz cantando, sinto falta de tuas mãos a tocar-me.
Mas o tempo me dá chances, parece que queria mesmo que fosse feliz a teu lado por esse tempo e queria que eu guardasse tudo isso dentro de mim, a tua falta me faz sentir o calor de teus braços e o brilho de teus olhos.
Devia ter morado entre seus braços.
Eu guardei tudo isso dentro de mim, em abundâncias e em cheiros de jasmim.
Ave Mãe, tu és cheia de graça!
Eu só errei na leitura do tempo... achei que seria eterno e não foi, mas foi uma delícia ser teu filho!