Opinião: Crateras, bólidos, asteróides, meteoritos e outras amenidades

Anísio Cláudio Rios Fonseca (de Formiga/MG)

Opinião: Crateras, bólidos, asteróides, meteoritos e outras amenidades
(Anísio Cláudio Rios Fonseca é professor pesquisador do UNIFOR-MG e coordenador do laboratório de mineralogia)




Recentemente fizemos uma descoberta sem precedentes no campo das estruturas de impacto de meteoritos na crosta terrestre- a ocorrência dos primeiros tectitos (Geraisitos) no Brasil, sendo a sétima ocorrência no mundo. Juntamente com cientistas da USP e do exterior continuamos o trabalho, o qual será publicado internacionalmente. Isso me trouxe boas lembranças.
Tempos atrás fui procurado pelo lendário Marcelo do Bilé e por outras pessoas envolvidas na questão da suposta cratera de impacto que ele localizou na região de Pontevila. Isso se deu quando o Google disponibilizou diversas imagens em seu aplicativo.
Vestígios de crateras de impacto por meteoritos, asteróides e cometas são conhecidas como astroblemas- cicatrizes dos astros. Distúrbios magnéticos em uma área no México revelaram uma imensa cratera já coberta por água e sedimentos cuja formação pode ter culminado na extinção dos dinossauros, há 65 milhões de anos. Quando um corpo desta magnitude penetra a atmosfera a 50.000Km/h, as ondas de choque e a elevadíssima temperatura do atrito e do impacto acabam por volatilizar a maior parte dele, restando no local apenas vestígios de sua presença. Um fenômeno assim aconteceu na Taiga siberiana (Tunguska), devastando vários quilômetros de florestas, mas nenhum vestígio do corpo que causou isso foi encontrado até o momento.
Em locais de impacto de meteoritos e asteróides é comum encontrar níveis elevados de irídio e metais siderófilos, incomuns em grandes concentrações na superfície do planeta. A tremenda energia do impacto afeta a sílica das rochas, gerando um polimorfo de sílica chamado coesita, cuja característica é a altíssima pressão e temperatura para sua formação, presença de figuras de compressão e estrutura característica de retículo cristalino. Coesita também é encontrada em locais de testes com bombas nucleares.              
A composição dos meteoritos e asteróides pode ser siderítica, onde predominam ferro-níquel; siderolítica, onde ocorre tanto o ferro-níquel como também muita matéria vítrea; assiderítica, onde predomina a matéria vítrea. O clima e os fatores erosivos acabam por destruir muito da estrutura original da cratera, bem como vestígios dos corpos que as criaram, principalmente se constituídos de matéria vítrea.
Acredito que haja outra explicação para a referida cratera, embora não seja poética como a primeira. A região onde ela se encontra pertence ao chamado Grupo Bambuí e possui rochas predominantemente sedimentares, sendo que o calcário do substrato aflora não muito longe. A água carregada de ácido carbônico vai atacando a rocha calcária e dissolvendo-a, formando cavernas de tamanho variável. Com o tempo, o teto das mesmas pode desabar, formando uma feição kárstica chamada dolina. As lagoas da cidade de Sete Lagoas ocupam áreas de dolinas. A presença de solo cinza no interior da cratera encontrada se deve ao fato de que é uma área de alagamento, e com isso o ferro presente no solo está na forma reduzida Fe++ e isso confere a cor cinza nos sedimentos. Basta lembrar que a argila cinza das telhas e tijolos se torna vermelha por aquecimento, pois o ferro ferroso passa a ferro férrico, que é vermelho.
Na ocasião foi uma interessante descoberta do meu amigo e o que concluí mais uma vez foi que conta é o interesse e a vontade de ir além do que os olhos podem ver, e para isso não precisa ser doutor e nem nada. É uma questão de querer fazer a pergunta e procurar as respostas!