Crônica: Chapa Quente

Robledo Carlos (de Divinópolis)

Crônica: Chapa Quente
Robledo Carlos é representante comercial




Do morro, sentado na laje, ouço foguetes e sambas de outras lajes.
De cócoras, pito um pito a apertar a brasa com a unha do polegar.
De maleta na mão, passo invisível aos olhos de transeuntes robóticos.
Com os cotovelos fincados na mesa de bar, faço poemas e rio pra não chorar.
Lanço a rede com esperança de peixes maiores, graúdos.
Peço a Deus, faço pedidos.
Alguém a me fazer pedidos?
No carro, desligo o rádio que canta sem conseguir entender um verso sequer.
Parado em frente ao espelho, agradeço ao tempo que condizente me leva, eu subordinado, minha cara a derreter.
Eu diante do patrão que me rouba, sorrio e ele também.
No plantão interrogo o batedor de carteira, ele sai pela porta da frente.
Grito gol, na arquibancada balanço a camisa feliz.
Descalço e sob a lua, eu agradeço a Deus.
Deitado em minha rede, me recolho, nada é para sempre.
É todo mundo assim, a contemplar, o tempo que vem em cobranças fatais.
Viva o outro dia!