Opinião: A falácia dos privilégios salariais dos militares
Jorge Zaidam Viana de Oliveira (De Formiga/MG)

Nos últimos meses tem se debatido muito, principalmente na mídia tendenciosa, sobre os supostos privilégios salariais que são concedidos aos militares das Forças Armadas e das Forças estaduais.
Afirmar que benefícios salariais pagos aos militares são privilégios é uma irresponsável injustiça. A profissão dos fardados, seja ela em nível federal ou estadual, é carregada de resignação e repleta de deveres que nem de longe se comparam aos encargos exigidos da imensa categoria dos servidores civis. Não se tem notícia de que funcionários do Legislativo, do Judiciário e do Executivo, sejam obrigados a trabalhar 24 horas sem a correspondente folga no dia seguinte, isso acontece de forma corriqueira no Exército, na Marinha e na Aeronáutica. O adicional noturno e as horas extras, são palavras que não fazem parte do vocabulário dos militares federais e estaduais.
Indenizações comuns às carreiras civis não são pagas a nenhum militar federal nem aos Policiais Militares e Bombeiros Militares, como o adicional de insalubridade, por exercerem atividades que causam danos à saúde, tais como manuseio de munições letais, gases e produtos químicos tóxicos, trabalhos em ambientes confinados como nos submarinos ou sob pressão adversa, como os exercidos pelos tripulantes de aeronaves das Forças Armadas, Polícias Militares e Bombeiros Militares, sem contar o estresse intenso dos treinamentos de tiro de armas longas e curtas e os de combate, como os de saltos de paraquedas. No âmbito estadual a tensão exacerbada das operações policiais, de extinção de incêndios e atendimentos a acidentes e desastres.
Os soldos do militares são risíveis quando comparados com os salários de outras categorias de servidores de Estado. Um juiz de primeira instância de qualquer tribunal estadual, inicia sua carreira com vencimentos muito superiores aos de um coronel das Forças Armadas ou das Polícias e Bombeiros Militares com trinta anos de serviço, que têm sob sua responsabilidade dezenas de vidas e valiosíssimos equipamentos de difícil reposição. Um ascensorista do Senado da República tem salário superior ao de um piloto de caça, treinado para operar aeronaves sofisticadíssimas, ou de um piloto das Forças Estaduais, cuja missão é salvar vidas a bordo de helicópteros que alcançam áreas onde nenhuma outra aeronave é capaz de atingir.
Enquanto muitas carreiras civis de Estado têm a proteção da lei no tocante à inamovibilidade, nas Forças Armadas não é possível aos seus integrantes fixarem residência em uma só cidade, as suas casas é o Brasil, onde eles e suas famílias estão sujeitos a mudanças de tempos em tempos, sendo transferidos dos Pampas Gaúchos à Selva Amazônica, independente de suas vontades. Qual esposa com formação em uma profissão liberal consegue trabalhar mudando-se constantemente de cidade? Nunca formará uma clientela. E os filhos? Esses não conseguem firmar-se em uma única escola, criando laços de amizade, que perduram por uma vida inteira. Aos filhos de é perfeitamente possível.
A diminuição de salários de forma indireta, por meio da elevação da contribuição da alíquota previdenciária, cogitada pelo Governo Federal para os seus militares, agora é também pretendida por alguns governos estaduais, com o argumento do princípio da simetria. Ou seja, para achatar os salários dos que usam ou já usaram farda, alegações não faltam.
A evasão de competentes e talentosos militares, no momento mais produtivo de suas vidas, é hoje uma realidade nas Forças Armadas brasileiras. A queda no interesse pelo ingresso na carreira militar é outra constatação. Os concursos para as Academias e Escolas Militares, embora ainda sejam muito concorridos, não mais despertam nos candidatos aquele entusiasmo juvenil de quem está às portas do início de uma profissão com salário digno. Hoje, muitos dos aprovados, após o término de uma formação sólida, quando se beneficiaram da oportunidade do estudo gratuito, usam dos conhecimentos adquiridos na profissão recém-abraçada, como trampolim para outras carreiras de Estado dezenas de vezes mais rendosas. Isso não é ilegal, mas convenhamos, é uma perda gigante de cérebros em desfavor da defesa deste imenso país continente.
Perde o Brasil, perde a sociedade, que em parte é injusta com os seus militares federais e estaduais, julgando-os, sem conhecimento de causa, quando acredita na falácia de que os fardados são culpados pelo estado de falência em que se encontra a economia dos estados e do país.