‘Oiiii, estou passando por aqui…’

‘Oiiii, estou passando por aqui…’




Muletas linguísticas são palavras ou expressões que, de tão usadas, deixam de ter um sentido específico, tornando-se banal e denunciando limitação lexical (para quem não sabe, léxico significa dicionário, é o conjunto dos vocábulos de uma língua, dispostos em ordem alfabética e com as respectivas significações. Em outras palavras, léxico é palavra).

 Vira e mexe, as pessoas se deparam com expressões ou vocábulos que nada são além de modismo. Quem acompanha as entrevistas de políticos nos canais de TV ou em podcast vê sempre a constante utilização da palavra “narrativa”. Tudo virou narrativa, o governo fala da “narrativa” da oposição que, por sua vez, reclama da “narrativa” do governo. Um quer colocar determinada “narrativa” na boca do outro e o outro se utiliza de “narrativa” contrária.

Com o advento recorrente das chamadas por vídeos em redes sociais, daquelas em que a pessoa levanta o celular e faz um comentário para mostrar alguma cena ou para dar um aviso, algumas muletas estão ficando corriqueiras. Começa assim, o vendedor da loja aparece na tela para anunciar o produto novo que chegou e: “Oiiii, estou passando por aqui…”. Aí, vem o músico convidando para o show da noite: “Oiiii, estou passando por aqui…”. Depois vem o deputado anunciando uma verba: “Oiiii, estou passando por aqui…”. Ninguém aguenta mais o famigerado “Oiiii, estou passando por aqui…”.

Em Formiga, a prática e o vício insistente do “Oiiii, estou passando por aqui…” está doendo. É Deus e todo mundo no “Oiiii, estou passando por aqui…”.

Interessante seria se as escolas explicassem que há um “bom dia”, um “boa tarde” e um “boa noite”. Que dá para pedir desculpas já no início por invadir página de outrem sem que o outrem tenha dado a autorização. Dá certo também um “um minutinho de sua atenção” ou um “tenho uma informação”, só que o “Oiiii, estou passando por aqui…” é imbatível.

Nesta semana em Formiga, dois crimes com características de justiçamento foi o assunto mais comentado da cidade. As “narrativas” provocaram as reações mais diversas. Tomara que a coisa não se banalize como um simples “Oiiii, estou passando por aqui…”.